
Sábado, 23/05/2015
A Assessora do MEC Helena Singer Aborda Inovação na Educação em Entrevista Exclusiva
A socióloga Helena Singer recebeu uma missão do Ministro da Educação para inovar a Educação Brasileira.
Rioeduca: Podemos dizer que tem crescido o número de iniciativas voltadas ao uso da tecnologia digital na educação no Brasil?
Estimativas do MEC indicam que cerca de 70% das escolas de ensino fundamental e 90% das de ensino médio possuem laboratório de informática e acesso à internet. Em organizações educativas não escolares, o uso da tecnologia digital se faz também presente, principalmente quando o foco é a produção de conteúdos audiovisuais, veículos de comunicação ou novos aplicativos.
Rioeduca: Quais desafios precisam ainda ser superados para que o acesso a essas tecnologias chegue a cada vez mais para os alunos e professores?
Mas é importante ressaltar que o uso das tecnologias digitais não equivale à inovação na educação. Esse uso pode se dar de forma conservadora, se não promover uma transformação nas relações entre estudantes e professores, nos processos de aprendizagem, nas relações entre a escola, a comunidade em que está inserida e o mundo. O uso das tecnologias digitais é inovador quando reconhece que os estudantes hoje participam ativamente de redes sociais onde interagem, colaboram, debatem e produzem novos conhecimentos. Nesse sentido, é inovadora, por exemplo, uma proposta de pesquisa que leva a estudante de doze anos que participa de uma rede de fãs da personagem principal do filme "Jogos Vorazes" a propor ali debates sobre as escolhas morais das personagens, a viabilidade científica dos eventos ou as referências históricas do filme. Em contraste, não é inovadora a proposta de uso de um software ultra sofisticado para o estudo de ciências, se o coordenador de todo o processo é o professor, e os estudantes fazem todos os mesmos procedimentos.
Rioeduca: Como deveria ser uma escola inovadora?
Para inovar, a estrutura do trabalho da equipe, da organização do tempo e do percurso do estudante precisa ser construída coletivamente, engajando a todos em uma visão comum de educação. Essa educação não se restringe aos conteúdos acadêmicos, mas se volta para a muldimensionalidade da experiência humana - afetiva, ética, social, cultural e intelectual. Também é importante que a escola perceba que o direito à educação não se dissocia dos demais direitos fundamentais. Uma criança ou jovem precisa estar saudável, bem alimentado, vivendo em condições dignas e em sergurança para conseguir aprender. Então, a escola inova quando lança estratégias em rede para a garantia desses direitos, articulando-se com os agentes do desenvolvimento social, da saúde, dos direitos humanos e da própria comunidade.
Por fim, uma escola inovadora é aquela que se reconhece como espaço de produção de conhecimento, não de reprodução. Um lugar onde as pessoas pesquisam e propõem intervenções na realidade, produzem cultura, transformam o meioambiente. E aqui, mais uma vez, as novas tecnologias podem realizar um papel definitivo, já que, através delas, estudantes e professores tanto acessam bases de dados de todos os tipos quanto podem disponibilizar o conhecimento construído para o mundo.
Rioeduca: Quais são os principais desafios que as escolas enfrentam para que sejam realmente inovadoras?
Rioeduca: De que maneira o MEC busca fortalecer as iniciativas municipais que trabalham com inovação em educação no Brasil?
Convênios entre universidades, escolas e secretarias de educação podem apoiar as equipes responsáveis a sistematizar processos e resultados, além de criar programas permanentes de formação dos professores.
Helena Singer é doutora em Sociologia pela USP, com pós doutorado em Educação pela Unicamp. É autora de “República de Crianças: sobre experiências escolares de resistência”, entre os livros e artigos sobre educação e direitos humanos. É atual assessora do MEC, onde criará estratégias que fortaleçam a criatividade na educação brasileira.
|


Segunda-feira, 11/05/2015
Educador pode ser um Design Thinker
Quem ainda não ouviu falar em design? Design de interiores, design de games, design gráfico, webdesign e muitas outras variações. Palavra de difícil tradução, pode significar plano, projeto, criação, dependendo do contexto. E design thinking? Algo como pensamento de design ou design de pensamento? O conceito ganhou popularidade no mundo empresarial nos anos 2000, quando a IDEO, uma das agências de design mais influentes e premiadas internacionalmente, com sede no Vale do Silício, na Califórnia/EUA, começou a utilizar em seus trabalhos de consultoria para organizações públicas e privadas do mundo todo. Design Thinking (DT) pode ser definido como uma abordagem para a solução de problemas centrada nas pessoas e baseada em processos intencionais colaborativos para se chegar ao novo. Ou seja, o DT tem como concepção a cocriação. É preciso envolver pessoas de diferentes perfis para resolver um problema ou desafio, mas sempre tendo como foco o público envolvido diretamente no problema ou desafio. É uma estratégia de todos para todos (bottom-up) em vez de um um para todos (top-down). Em 2012, a IDEO lança um material especial sobre DT voltado para educadores, o Design Thinking for Educators , composto por um livro-guia e um caderno de atividades, licenciados em Creative Commons, disponível para download. Em 2014, o Instituto Educadigital lançou a versão em Português desse material, já inserindo exemplos de projetos que foram criados no Brasil, disponível para download na íntegra ou por capítulos. Trata-se de um recurso educacional aberto altamente relevante para a busca da inovação na educação, pois possibilita que educadores utilizem essa abordagem com seus alunos, colegas, gestores e comunidade escolar. O Instituto Educadigital, desde 2011, tem utilizado o DT em suas atividades de formação com educadores e gestores, e também no planejamento e concepção de projetos educativos, como por exemplo: Edukatu , Escola Digital e Edufinanceira na Escola. Na sala de aula, o DT oferece uma possibilidade prática para que os educadores sejam de fato mediadores na construção do conhecimento. Muito se fala sobre o protagonismo dos estudantes e sobre a aprendizagem significativa, mas, objetivamente, poucos professores conseguem concretizar esse discurso. A abordagem do DT pode ajudar a isso em prática. O professor pode utilizar para planejar a sala de aula invertida ou implementar o trabalho diversificado por perfis de alunos. O gestor pode utilizar para planejar uma formação docente ou alcançar um objetivo da instituição como, por exemplo, estimular os pais a participarem mais do cotidiano escolar.
O Design Thinking para Educadores busca criar uma cultura de inovação baseada no ser humano, isto é, a inovação só pode ser entendida como tal se fizer de fato diferença na vida das pessoas, se evidenciar um novo valor, uma melhoria. Para desenvolver o DT, o material sugere 5 etapas que se inter-relacionam: Descoberta, Interpretação, Ideação, Experimentação e Evolução.
Fotos de algumas formações podem ser vistas aqui: https://www.flickr.com/photos/ieducadigital/sets/.
Dia 22 de maio, no Colégio Pedro II, centro do Rio, vou facilitar uma oficina básica de DT para Educadores. Mais informações aqui: www.bit.ly/oficinaDT-Rio.
Priscila Gonsales
Desenvolve projetos e pesquisas em educação na cultura digital desde 2001 e facilita processos formativos envolvendo Recursos Educacionais Abertos e Design Thinking para Educadores.
|

