
Quinta-feira, 03/12/2015
Fab Labs - Novo Conceito de Laboratórios Abertos
Conheça o Fab Lab, uma maneira de dinamizar o uso de novas tecnologias. A Heloisa conta sobre esse tipo de trabalho.
RIOEDUCA: Qual é a principal proposta dos Fab Labs? Como começou? HELOISA NEVES: Um Fab Lab (abreviação do termo em inglês fabrication laboratory) é uma plataforma de prototipagem rápida de objetos físicos e está inserido em uma rede mundial de três centenas de laboratórios: dos Estados Unidos ao Afeganistão, da Noruega à Gana, de Costa Rica à Holanda. Ele se destina aos empreendedores que querem passar mais rapidamente da fase do conceito ao protótipo; aos designers, aos artistas e aos estudantes que desejam experimentar e enriquecer seus conhecimentos práticos em eletrônica, em CAD/CAM1, e também aos makers2 e hackers3 do século XXI. Um Fab Lab agrupa um conjunto de máquinas por comando numérico de nível profissional, porém de baixo custo, seguindo um padrão tipológico. São exemplos: uma máquina de corte a laser capaz de produzir estruturas 2D e 3D, uma máquina de corte de vinil que fabrica antenas e circuitos flexíveis, uma fresadora de alta resolução para fabricar circuitos impressos e moldes, uma outra maior para criar peças grandes. Há também componentes eletrônicos múltiplos, bem como ferramentas de programação associadas a micro controladores abertos, de baixo custo e eficientes. Estes dispositivos são controlados por meio de um software comum de concepção e fabricação assistida por computador. Os outros sistemas mais avançados, tais como as impressoras 3D, podem igualmente equipar certos Fab Labs. Apesar das máquinas de comando numérico serem uma grande atração nos Fab Labs, a característica principal desse laboratório é sua “abertura”. Contrariamente aos laboratórios tradicionais de prototipagem rápida que podem ser encontradas em empresas, em centros especializados dedicados aos profissionais ou universidades, os Fab Labs são abertos a todos, sem distinção de prática, diploma, projeto ou uso. Eles se inscrevem no movimento do “terceiro lugar”4 e nos mecanismos de trabalho colaborativo da internet e, em particular, da web 2.0. Os mecanismos de troca, de peer-to-peer5, de colaboração, de cooperação, de interdisciplinaridade, de compartilhamento, de aprendizagem através da prática, do “do it yourself”6, de práticas inovadoras ascendentes e comunitárias são favorecidas e encorajadas. Tal abertura, chave do sucesso e da popularidade dos Fab Labs, facilita os encontros, o acaso e o desenvolvimento de métodos inovadores para o cruzamento de competências. Esses espaços abertos a todos e acessível (tarifas baixas ou, mesmo, o acesso livre) favorece a redução de barreiras à inovação e à constituição de um terreno fértil à inovação. O primeiro Fab Lab surgiu no Massachusetts Institute of Technology (MIT)7, mais especificamente no laboratório interdisciplinar chamado Center for Bits and Atoms (CBA)8 fundado em 2001 pela National Science Foundation (NSF)9. Esse ambicioso centro de pesquisa tem como objetivo o interesse pela revolução digital e, em particular, pela fabricação digital, cujas evoluções poderiam, eventualmente, produzir ferramentas capazes de unir a matéria ao nível atômico. Os Fab Labs10 são para o CBA o componente educacional de sensibilização à fabricação digital e pessoal, democratizando a concepção das tecnologias e das técnicas e não somente o consumo. O primeiro Fab Lab foi implantado no CBA sob a liderança de Neil Gershenfeld11, professor e diretor do CBA, vinculado ao célebre MIT Media Lab. Seus campos de pesquisa são bastante interdisciplinares, da física à computação quântica, da nanotecnologia à fabricação pessoal. Durante seu discurso na conferencia TED 200612, Gershenfeld retorna à gênese dos Fab Labs: “a fim de trabalhar questões de fabricação digital, o CBA obteve um financiamento importante para compra de máquinas capazes de fabricar qualquer coisa em qualquer escala. Eu passei muito tempo ensinando aos estudantes como usar as ferramentas. Para facilitar esse processo, criei um curso intitulado “How to Make Almost Anything” (tradução: "como fazer quase qualquer coisa"). Estudantes de todos os cursos apareceram. Eles não possuíam necessariamente as habilidades técnicas, mas todos eles produziram resultados incríveis, surpreendentes. E eu percebi que o “killer product” (aquele que desencadeia o surgimento de um mercado) da fabricação pessoal é o produto que trata de um mercado de uma pessoa. Não há necessidade de proceder a tais dispositivos para fabricar um produto que encontramos na grande distribuição, mas eles são úteis para fabricar o que é único. Os estudantes, portanto, inverteram as máquinas para inventar a fabricação pessoal (...).” Nesse contexto e, além do espaço da universidade, os Fab Labs foram criados seguindo um modelo que provém da internet, mais especificamente da web colaborativa 2.0, que auxiliou na democratização das ferramentas de compartilhamento, de edição, criação e deu a permissão ao usuário de se transformar em “ator” do processo.13
Neste sentido, os Fab Labs devem responder a algumas questões:
Mapa da rede mundial de Fab Lab.
A dimensão “rede” está inscrita na essência do Fab Lab por diversos motivos.
Além disso, o kit padrão de máquinas por comando numérico comum aos diferentes Fab Labs permite replicar processos desenvolvidos em qualquer laboratório, independentemente de sua localização. Essa singularidade tecnológica permite e facilita o compartilhamento do conhecimento e do saber. Vale ressaltar que essas trocas não são dirigidas unicamente sobre um eixo global norte-sul, apresentando múltiplos vetores horizontais. A rede desenvolveu uma comunidade mundial alimentada pelas especificidades culturais, técnicas, econômicas e sociais. A criação de um projeto colaborativo se dá em função de competências locais disponíveis, sendo que todos os interessados participam na realização de alguma tarefa. Uma vez prototipado o objeto e testados os processos, o projeto pode facilmente ser replicado pelos outros Fab Labs da rede.
1. Em inglês: CAD (Computer Aided Design - Projeto Assistido por Computador) e CAM (Computer Aided Manufacturing - Fabricação Assistida por Computador) 2. Maker: um maker é a pessoa que faz ou fabrica os objetos com suas próprias mãos, desenvolvendo todo o processo. Está relacionado com o movimento DIY (do it yourself – faça você mesmo). É um conceito antigo, mas que passou a ter grande importância com a surgimento dos novos espaços de produção desencadeados com a revolução digital. 3. Hacker é um indivíduo que se dedica, com intensidade incomum, a conhecer e modificar os aspectos mais internos de dispositivos, programas e redes de computadores.
4. Verificar sobre o conceito de “terceiro lugar” no livro de referência do sociólogo americano Ray Oldenburg, The Great Good 5. Place: Cafes, Coffee Shops, Community Center, Beauty Parlors, General Stores, Bars, Hangouts and How They Get You Through the Day. EUA: Paragon House, 1989.
5. "Par a par ou ponto a ponto", na tradução ao português.
6. "Faça você mesmo", na tradução ao português.
7. Para maiores detalhes, ver: www.web.mit.edu.
8. Para maiores detalhes, ver: www.cba.mit.edu.
9. Para maiores detalhes, ver: www.nsf.gov.
10. Para maiores detalhes, ver: www.fab.cba.mit.edu.
11. Para maiores detalhes, ver: http://en.wikipedia.org/wiki/Neil_Gershenfeld. 12. Para maiores detalhes, ver: http://www.ted.com/talks/neil_gershenfeld_on_fab_labs.html. 13. Para maiores detalhes, ver: http://fab6.nl. 14. Para maiores detalhes, ver: https://vimeo.com/25814127.
RIOEDUCA: O Fab lab é viável em uma grande rede pública? HELOISA NEVES: Fab Labs são realmente para serem trabalhados em rede. Para uma rede pública, eu tentaria implementar hubs, ou seja, laboratórios geograficamente bem localizados e que possam ser utilizados por várias escolas ao mesmo tempo. Nao faz sentido cada escola ter o seu porque a grande vantagem de um Fab Lab é fazer junto, colaborativamente. O ensino tem muito a ganhar se a dimensão da rede também se expandir para os laboratórios das escolas, tornando-os mais compartilháveis, pois, num ambiente assim, as ideias surgem mais facilmente, se aprende mais e obtêm-se olhares mais diferentes sobre o mesmo assunto. Outro ponto importante, quando pensamos em hubs, é o fator custo. Um Fab Lab tem um custo inicial de abertura de 800K, incluindo máquinas, consumíveis, treinamentos e salários para equipe durante o primeiro ano. Por ser um custo mais elevado, faz sentido que várias escolas possam se beneficiar dele.
RIOEDUCA: Qual a dica para um(a) professor(a) iniciar um Fab lab na sua escola? HELOISA NEVES: Comece com uma atitude maker. Mais do que máquinas, o movimento maker traz consigo um novo jeito de “fazer”. Se o professor entender as bases conceituais do movimento, ele pode aplicá-las em qualquer lugar, inclusive dentro da sala de aula. Para exemplificar, quando um professor deixa seu posto de “pessoa que sabe tudo” e passa a ser o facilitador dos alunos, ajudando-os a compreender coisas que nem ele sabe, ele se torna um maker. Quando um professor usa uma rede de contatos e coloca seus alunos para aprender com essa rede e com os próprios colegas, ele esta sendo maker. Quando um professor acolhe um projeto pessoal de um aluno e o ajuda a entender como seguir adiante, também está começando ali a plantar uma sementinha do que pode vir a ser um Fab Lab. Um Fab Lab é bastante conhecido como um lab de máquinas, mas, sem pessoas e suas atitudes, as máquinas nao servem para nada. Claro que é importante conhecer as novas tecnologias, e acho que criar um laboratório físico é importante. Porém, uma coisa nao anda sem a outra. Tecnologia pela tecnologia não traz inovação e uma educação melhor. Professores makers com acesso à tecnologia podem revolucionar o mundo.
RIOEDUCA: Que competências são desenvolvidas no espaço de um Fab Lab ? HELOISA NEVES: As que mais se sobressaem são competências que, às vezes, ficam um pouco distantes do universo educacional: inovação, criatividade, autonomia, empoderamento, empreendedorismo.
RIOEDUCA: As redes públicas caminham em direção à educação integral. Como os Fabs Labs podem melhorar a experiência escolar do aluno nessa modalidade?
HELOISA NEVES: Os Fab Labs vêm atuando no mundo todo no contraturno e em projetos especais. Esse foi o caminho encontrado para que pudéssemos entrar nas escolas. Os EUA já possuem hoje um currículo e as escolas que se baseiam totalmente no movimento maker, mas ainda há um longo caminho para que o cerne da educação se transforme. E o caminho é longo exatamente por conta do que falei acima, precisamos de professores makers e não somente de máquinas. Comprar máquinas é fácil e rápido, quando se tem dinheiro. Mas, empoderar professores, acolhê-os dentro do mundo maker e dar a eles espaço e apoio as suas dificuldades talvez seja a tarefa mais difícil e a que demora mais. Portanto, acho que vale a pena começar pequeno, construindo bases fortes, ainda que no contraturno e em projetos especiais. Dessa primeira ação, outras irão surgindo pela própria iniciativa dos alunos e professores. É totalmente bottom-up e, por isso, seja tão difícil e tão delicioso.
HELOISA NEVES:
Criadora da empresa WE FAB (que conecta movimento maker com inovação através de sua metodologia Maker Innovation), professora de Design para o curso de Engenharia do Insper, e coordenadora do Insper Fab Lab. Vem trabalhando com o universo maker desde que decidiu tirar um ano sabático e realizar o curso Fab Academy no Fab Lab Barcelona. Desde aí, implementou vários laboratórios makers e Fab Labs, e auxiliou empresas e outras instituições a implementar uma cultura mais focada no hands-on, colaboração e agilidade.
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Quinta-feira, 02/07/2015
Ensino de Programação de Computadores para Crianças e Jovens
Em 2013, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, participou de um evento de incentivo ao estudo da Ciência da Computação. Nesse evento, o presidente fez um discurso direto, com forte apelo patriótico, afirmando que o conhecimento da ciência da computação “não é uma habilidade somente importante para o futuro do jovens, mas para o futuro do país”. Ele declarou que, “se quisermos um país que esteja na vanguarda, precisamos de jovens que dominem as ferramentas e a tecnologia, que mudarão o jeito de como fazemos as coisas”. Por fim, solicitou expressamente:
“Peço a você que se envolva. Não compre apenas um novo videogame, crie um. Não baixe um aplicativo. Ajude a desenvolvê-lo. Não apenas brinque em seu celular, mas programe-o.”
Por sua vez, a Inglaterra, de forma não muito diferente, passou também a incentivar o estudo da Ciência da Computação. A partir deste ano, 2015, o país inseriu no currículo das escolas públicas o ensino de programação de computadores para crianças a partir de 5 anos.
Mas por que tanto incentivo ao estudo da Ciência da Computação?
A resposta se encontra em um vídeo produzido pela CODE.ORG (entidade sem fins lucrativos que incentiva o estudo da programação com vídeos on-line gratuitos), no qual informa que um milhão dos melhores empregos dos Estados Unidos nos próximos anos não serão preenchidos, porque apenas uma entre dez escolas ensina programação.
E como fica o Brasil nesse contexto?
Ao contrário dos países citados, no Brasil o estudo da computação não é ainda incentivado. Além disso, as ofertas de emprego para programadores não são tão atrativas nem possuem altos salários.
No entanto, observando os acontecimentos em outros países, percebemos que o estudo da Ciência da Computação é uma tendência mundial e um caminho que não pode ser evitado.
E como nós, brasileiros, devemos atuar no presente momento?
A atuação, nesse momento, é um desafio a ser desvendado por nós, professores, pois o caminho está totalmente aberto.
Acredito que o início do processo de inserção dos nossos jovens nessa área deve ser a utilização de ferramentas que estão começando a ser disponibilizadas gratuitamente na internet por entidades que visam o incentivo ao estudo dessa nova ciência. A exemplo, vale a pena consultar o site do “code.org”. Nele há inúmeros vídeos gratuitos de entrevistas com programadores famosos que relatam suas próprias experiências, além de ensinar princípios básicos da programação. Para isso, basta digitar code.org em seu navegador predileto e preparar-se para se deliciar com o conteúdo.
Glaucia Lima é professora do Centro Cultural do Colégio Franco Brasileiro no “Curso de Programação de Games para Crianças e Jovens”, sendo formanda da Full Sail University no curso de “Game Arts”.
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Quarta-feira, 03/06/2015
Coaching na Educação
Contexto, Aplicação e Possibilidades para Professores e Gestores EducacionaisRecebi um poderoso desafio: Escrever um artigo com apenas 2 mil caracteres esclarecendo como o Coaching potencializa as ações dos professores e gestores educacionais na escola de educação básica. Desafio aceito! Isto significa colocar o professor como ator principal no processo de potencialização de desenvolvimento de competências docentes. O processo de coaching instiga o docente e o gestor a viver a sua melhor versão, utilizando ferramentas e técnicas que os colocam como sujeitos do próprio aprendizado. Entre outros benefícios destaca-se o desenvolvimento e aplicação de técnicas de ensino e aprendizagem, o aperfeiçoamento e potencialização de pontos fortes, além de buscar por aprofundamento no conhecimento sobre processos cognitivos humanos.
O sistema ainda está longe de ter conseguido envolver a maioria de seus professores. Mas, de fato, a figura do professor coach – se tornou presente na vida de cada escola pública da cidade.
A ideia de um novo design no mundo da educação torna-se cada vez mais forte nos últimos anos, e cada vez mais claro que as instituições educacionais precisam ser recriadas, vitalizadas e renovadas de forma sustentável, adotando uma orientação aprendente, envolvendo todos do sistema, facilitando que cada um expresse suas aspirações, visando construir uma nova consciência do modelo mental desejado, e que ferramentas poderão utilizar para realizar a conexão motivada pela visão.
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